A solidariedade como fundamento antropológico para a busca da igualdade material


 Ser solidário socialmente significa, mais especificamente, ter compaixão pelo outro em situação relacionada à sua vida material, ou seja, a solidariedade social diz mais que a simples solidariedade, eis que esta se pode dar em termos estritamente particulares e individuais (por exemplo, ser solidário com alguém que perdeu um ente querido), enquanto aquela ocorre no nível de relações de caráter quase sempre público, embora nem sempre explícito.
 Como há muito se sabe, determinados comportamentos são mais importantes que outros na luta evolutiva das espécies. Tais comportamentos são valorizados ao ponto de se tornarem padrões de comportamento ou estruturas sociais e quem os incorporam passa a dispor de maior viabilidade na preservação de seus genes.
Logicamente, não se defende o darwinismo social, no sentido de que os mais fortes devam sempre prevalecer, até mesmo em razão de que a definição de fracos ou fortes, na sociedade humana, passa por enormes camadas de politização partidária, manipulações ideológicas e desprezo ao interesse alheio, além da óbvia constatação de que a civilização moderna se erigiu justamente na (e para a) defesa dos interesses das minorias mais desamparadas socialmente.
 Aqui se pode relacionar o impulso da solidariedade social com a alteridade. A adoção da perspectiva do outro é fundamental para a vida de relação. No plano individual, aprofunda-se o traço cordial e de compaixão quando se tem em mente a distinção, a noção de que o outro contrasta conosco, mas que nos é semelhante. Em resumo, vivenciar a alteridade é entender que somos o outro para o outro e que os outros são nosso “inferno”, mas também nosso “céu”, numa linguagem já muito popular.
  “Além de compartilhar com certos valores racionais universalizantes, como vida, liberdade, bem-comum e justiça, a ‘ ética da alteridade’, por ser parte de uma pluralidade de formas de vida, traduz a singularidade de certos valores específicos (simbolizadores de uma dialética do particular/universal, da universidade/pluralidade etc.), representados basicamente por emancipação, autonomia individual e coletiva, solidariedade, justiça e a satisfação das necessidades humanas. A ‘ética da alteridade’, sem deixar de contemplar princípios racionais universalizantes comuns a toda humanidade, proriza as práticas culturais de uma dada historicidade particular, material e não-formal.
 A ‘ ética da alteridade’ é uma ética antropológica da solidariedade que parte das necessidades dos segmentos humanos marginalizados e se propõe gerar uma prática pedagógica libertadora, capaz de emancipar os sujeitos históricos oprimidos, injustiçados, expropriados e excluídos. Por ser uma ética que traduz os valores emancipatórios de novas identidades coletivas que vão afirmando e refletindo uma práxis concreta comprometida com a dignidade do ‘outro’, encontra seus subsídios teóricos não só nas práticas sociais cotidianas e nas necessidades históricas reais, mas igualmente em alguns pressupostos epistemológicos da chamada Filosofia da Libertação.”
O sentimento de solidariedade social se prende à percepção de que o outro deve ter condições dignas de vida e em patamar, pelo menos, de igualdade a quem sente ou percebe.
Nesse passo, a busca pela equalização das condições de vida entre todas as pessoas deriva, sob certo aspecto, desse sentir solidário e, portanto, serve-lhe como fundamento.
Ser igual socialmente, no entanto, não significa a abdicação do direito à diferença entre os indivíduos. Na verdade, podemos dizer que tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais é uma fórmula correta, embora já muito desgastada[8]. Serve, todavia, como indicativo de que as diferenças materiais devem ser levadas em conta por quem busca equalização.
Equalização não significa planificação comportamental ou ideológica. A manutenção do direito à diferença, no plano individual, é, aliás, esteio da própria dinâmica da vida de relação “Perante isto, há que se buscar uma nova articulação entre políticas de igualdade e políticas de identidade. Antes de mais, há que se reconhecer que nem toda a diferença é inferiorizadora. E, por isso, a política de igualdade não tem de se reduzir a uma norma identitária única. Pelo contrário, sempre que estamos perante diferenças não inferiorizadoras, a política de igualdade que as desconhece ou descaracteriza, converte-se contraditoriamente numa política de desigualdade. Uma política de igualdade que nega as diferenças não inferiorizadoras é, facto, uma política racista. Como vimos, o racismo, tanto se afirma pela absolutização das difernças como pela negação absoluta das diferenças. (...)
   Daí, o novo meta-direito intercultural que, em meu entender, deve presidir a uma articulação pós-colonial e multicultural das políticas de igualdade e de identidade: temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a desigualdade nos descaracteriza”[9]
Já agora, podemos encaminhar para uma conclusão deste breve ensaio. Por tudo que foi dito, conclui-se que a solidariedade poder ser vista sob dois aspectos, sendo o primeiro o das relações íntimas entre as pessoas, e o segundo, nas relações sociais ou públicas, decorrendo daí a qualificação da solidariedade como social.
Também se verificou que a solidariedade social é traço ínsito não somente aos seres humanos, mas a símios e primatas superiores, atuando como fator de agregação e preservação das espécies que não dispõem de armas naturais de grande poder e se colocam na cadeia alimentar em patamares inferiores.
Lembrou-se, ainda, que a solidariedade social atual como macroestrutura sociológica, determinando comportamentos padrões que resultam em maior grau de satisfação pessoal e, consequentemente, diminui fatores como violência e suicídio.
Pontuou-se acerca da solidariedade social como princípio supraestatal que obriga até mesmo o constituinte originário, passando pelo legislador ordinário e sendo de observância obrigatória para os aplicadores da lei, decorrendo daí inúmeras disposições legais que têm por fim unidirecional promover a criação de uma sociedade justa, livre e, especialmente, solidária.
Responda o que se pede:
1. O que significa ser solidário¿
2. O que significa  alteridade ¿
3. O que é ‘ ética da alteridade’
4. A que se prende o sentimento de solidariedade social ¿
5. Que fatores diminui a solidariedade social entre as pessoas¿

6. Descreva 2 exemplos em que você exerceu seu papel como um cidadão solidário.

Um comentário:

  1. Gosto imensamente desse material de Ensino Religioso por tratar exatamente do tema como cidadania, igualdade social, enfim, temas do dia a dia de nossos alunos. Parabéns aos organziadores!

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